Sinopse:
terça-feira, 22 de junho de 2010
Para Quem Gosta de Sartre
Sinopse:
sábado, 12 de setembro de 2009
Conhece-te a ti mesmo - mesmo?

Sócrates
A figura de Sócrates é como um divisor de águas na Filosofia Antiga, tanto que os filósofos anteriores a ele são tradicionalmente chamados de pré-socráticos.
De fato, com Sócrates há uma mudança significativa no rumo das discussões filosóficas sobre a verdade e o conhecimento. Os primeiros filósofos estavam preocupados em encontrar o fundamento (arké) de todas as coisas. Sócrates, por sua vez, está mais interessado em nossa relação com os outros e com o mundo.
Curiosamente, Sócrates nada escreveu - e tudo o que sabemos dele é graças a seus discípulos, particularmente Platão. Sócrates teria tomado a inscrição da entrada do templo de Delfos como inspiração para construir sua filosofia: Conhece-te a ti mesmo.
Para compreendermos o sentido dessa frase, segundo o filósofo francês Michel Foucault (1926 - 1984), devemos inscrevê-la em uma estratégia mais geral do cuidado de si.
Ou seja, o que Sócrates pregava era que nós devemos nos ocupar menos com as coisas (riqueza, fama, poder) e passarmos a nos ocupar com nós mesmos. Poderia objetar-se: com que propósito deveria ocupar-me comigo mesmo? Porque é o caminho que me permite ter acesso à verdade. Mas que tipo de verdade? Obviamente não é uma verdade qualquer, tal como a fórmula química da água, mas a verdade que é capaz de transformá-lo no seu próprio ser de sujeito.
É esse ato de conhecimento, capaz de promover nossa autotranscendência, de que fala Sócrates. Conhecer a mim mesmo para saber como modificar minha relação para comigo, com os outros e com o mundo.
Como ter acesso à verdade?
Sócrates dizia ter recebido de Deus a missão de exortar os atenienses, fossem eles velhos ou jovens, a deixarem de cuidar das coisas, passando a cuidar de si mesmos. Tal atitude o fez dedicar-se inteiramente à filosofia e à prática dialógica (uma forma especial de diálogo, denominada maiêutica) por meio da qual ele fazia com que seu interlocutor percebesse as inconsistências de seu discurso e se autocorrigisse.
A atitude de Sócrates questionava os valores da sociedade ateniense, razão pela qual seus inimigos o levaram ao tribunal, onde foi julgado e condenado à morte. Sua morte, porém, não impediu que a questão do cuidado de si se tornasse um tema central na filosofia durante mais de mil anos - e chegasse a influenciar alguns filósofos modernos e contemporâneos.
A questão central do cuidado de si é que jamais se tem acesso à verdade sem uma experiência de purificação, de meditação, de exame de consciência - enfim, através de determinados exercícios espirituais capazes de transfigurar nosso próprio ser.
Dito de outro modo, o estado de iluminação, de descoberta da verdade, não é produto do estudo, mas de uma prática acompanhada de reflexão constante sobre minhas ações, atitudes - e de como posso modificá-las para me tornar uma pessoa melhor. É como se a vida fosse uma obra de arte em que nós vamos nos moldando, nos aperfeiçoando no decorrer da existência.
A difícil busca da verdade
Mas quando nos perguntamos: para quê acumulamos e produzimos conhecimento? A resposta é simplesmente: para aumentar infinitamente nosso conhecimento. Entramos, assim, numa corrida sem fim, em que nunca nos questionamos se isso realmente está trazendo os benefícios prometidos.
Claro que a tecnologia traz inegáveis benefícios, mas não parece que as pessoas, atualmente, estejam mais felizes. Pode-se alegar, no entanto, que não é papel do conhecimento e da ciência promover a felicidade humana - e que, talvez, conhecimento e ciência tenham a única função de contribuir para a concentração de poder e dinheiro nas mãos de alguns uns poucos.
Sócrates, porém, via a busca da verdade com o um caminho de ascese, pois, quando cuidamos de nós mesmos, modificamos nossa relação com os outros e com o mundo.
Mergulhados em preocupações com a aparência e o consumo, pensamos estar cuidando de nós mesmos, quando na verdade estamos nos perdendo em meio às coisas. É preciso conhecer a si mesmo para não perder-se. Claro que você não vai encontrar toda verdade em si mesmo, mas, pelo menos, a única verdade capaz de salvá-lo.

O que há para ler
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Independência ou Morte
Diz-se que o homem nasceu livre, que a liberdade de cada um acaba onde começa a liberdade de outrem; que onde não há liberdade não há pátria; que a morte é preferível à falta de liberdade; que renunciar à liberdade é renunciar à própria condição humana; que a liberdade é o maior bem do mundo; que a liberdade é o oposto à fatalidade e à escravidão; nossos bisavós gritavam “Liberdade, Igualdade e Fraternidade!”. Nossos avós cantaram: “Ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil!”; nossos pais pediam: “Liberdade! Liberdade! – abre as asas sobre nós”, e nós recordamos todos os dias que “o sol da liberdade em raios fúlgidos – brilhou no céu da Pátria…” – em certo instante.
Somos, pois criaturas nutridas de liberdade há muito tempo, com disposições de cantá-la, amá-la, combater e certamente morrer por ela.
Ser livre – como diria o famoso conselheiro… – é não ser escravo; é agir segundo a nossa cabeça e o nosso coração, mesmo tendo que partir esse coração e essa cabeça para encontrar um caminho… Enfim, ser livre é ser responsável, é repudiar a condição de autônomo e de teleguiado – é proclamar o triunfo luminoso do espírito. (Supondo que seja isso.)
Ser livre é ir mais além: é buscar outro espaço, outras dimensões, é ampliar a órbita da vida. É não estar acorrentado. É não viver obrigatoriamente entre quatro paredes.
Por isso, os meninos atiram pedras e soltam papagaios. A pedra inocentemente vai até onde o sono das crianças deseja ir. (Às vezes, é certo, quebra alguma coisa, no seu percurso…).
Os papagaios vão pelos ares até onde os meninos de outrora (muito de outrora!…) não acreditavam que se pudesse chegar tão simplesmente, com um fio de linha e um pouco de vento!…
Acontece, porém, que um menino, para empinar um papagaio, esqueceu-se da fatalidade dos fios elétricos e perdeu a vida.
E os loucos que sonharam sair de seus pavilhões, usando a fórmula do incêndio para chegarem à liberdade, morreram queimados, com o mapa da Liberdade nas mãos!…
São essas coisas tristes que contornam sombriamente aquele sentimento luminoso da LIBERDADE. Para alcançá-la estamos todos os dias expostos à morte. E os tímidos preferem ficar onde estão, preferem mesmo prender melhor suas correntes e não pensar em assunto tão ingrato.
Mas os sonhadores vão para a frente, soltando seus papagaios, morrendo nos seus incêndios, como as crianças e os loucos. E cantando aqueles hinos que falam de asas, de raios fúlgidos – linguagem de seus antepassados, estranha linguagem humana, nestes andaimes dos construtores de Babel…”
O conto narrado chama-se “Liberdade”
do livro de contos “Escolha o seu sonho”
quarta-feira, 15 de julho de 2009
"Filosofia não enche a barriga de ninguém"
Ricardo Coração de Leão
“Meu filho! Filosofia não enche a barriga de ninguém!” Isso mesmo! O negócio é encher o bucho. Afinal, saco vazio não pára em pé. Os cachorros comem, os macacos comem, os cavalos comem... E os jumentos comem prá sobreviver. O importante é encher o ventre. “Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos”. Lema de antigos filósofos epicureus. Dualismo entre corpo e espírito. Gnóstico. Por falar em dualismo, coisa de Platão... Voltando à vaca fria (ruminante): O mais importante, então, seria o ventre. Cheio.
O que enche a barriga? Feijão, arroz, carne... Carne? Desde que você não seja vegetariano. Vegetal. Diferente de animal. Lembro agora de Aristóteles, que disse: “O homem é um animal político”. Por falar em Aristóteles, este talvez não precisasse de dieta, pois era peripatético... Voltemos aos vegetais. Entre os tais, leguminosas verdes, cor que percebo empiricamente. Conhecimento a posteriori. Mera impressão do sujeito? A cor realmente existe? Ontologicamente? Ou será tudo uma construção do sentido? O que você me diz, Berkeley? Por falar em verde, lembrei-me da Amazônia brasileira. Coisa estupenda! Impressionante e sobrenatural! Sobrenatural? É idéia tomista. Argumento teleológico. O design inteligente. Invenção escolástica, pois a causalidade não seria uma quimera? Puro hábito? Pulei de Tomás a Hume. Eis-me aqui, agnóstico. Onde estava mesmo? Ah, sim. Amazônia brasileira. Do Brasil verde e amarelo. “Ordem e Progresso” na flâmula. Lema positivista. De Augusto Comte.
Pare! Hora de ser pragmático, como James, ou utilitário, como Mill. Amanhã é sábado, dia de feira. Dia de comprar legumes... e carnes! Saco vazio não pára em pé. Compro peixe ou porco? Peixe. Símbolo cristão. Cristianismo, agostiniano, medieval, como Anselmo. Este, do argumento ontológico. Deus, o Infinito, a maior idéia, perfeita... Volto ao peixe. Qual peixe? De água doce ou salgada? Água, um dos quatro elementos... Pré-socráticos: Tales, Zenão, Pitágoras, Parmênides, Heráclito... Eureca! Achado arquimediano: peixe de água doce. Afinal, Heráclito lembrou-me o rio: “Uma pessoa não pode banhar-se duas vezes no mesmo rio”. Peixe! Legumes e peixes. Comida bem cristã... Lembra a Quaresma. E Quaresma, por antítese (não a de Hegel), lembra glutonaria. Um dos sete pecados capitais. Essa não! Tomás de Aquino novamente? Confissões, roteiro agostiniano... do racionalismo teológico. Confesso hoje, pois amanhã compro o peixe. Amanhã? “O passado não é mais, o futuro ainda não é, se o presente fosse sempre presente, seria eternidade”. Agostinho de novo! Para quem não há três tempos, somente o presente.
Quanto dinheiro levo pra comprar os legumes e o peixe? Dinheiro! Vil metal. Pra que dinheiro? Sem dinheiro, vou morar num barril. Como Diógenes, o cínico! Prefiro a cicuta, tal qual Sócrates, o parteiro. Sócrates ou Diógenes? Dúvida cruel. Nada metódica. Nada cartesiana. Ok. Chega! Vinte Reais devem ser suficientes. Afinal, peixe de água doce, e leguminosas verdes. Prato simples, básico, quase estóico. Suficiência. Ética do justo meio. Equilíbrio, aristotélico.
Dia de feira! Vinte Reais no bolso! Reais do Fernando Henrique. Presidente-filósofo! Antes do Lula. Ex-operário. Sindicalista, de classe. Classe operária. Karl Marx. Gramsci e os intelectuais orgânicos. Comprometidos com a classe. Qual? Alienação? Teologia da Libertação? Volto aos Reais. Coisa de burguês. Liberalismo, de John Locke... Feira barulhenta. Popular. Fervilhando. Cidade dos Homens por oposição à Cidade de Deus. Uns compram, outros vendem... e os atravessadores. E os camponeses, produtores. Olho as verduras. Verdura vem de verde. A cor. Aquela! Tudo isto me confunde os sentidos. Sentidos do Francis Bacon... Ah, um x-bacon! Idéia empírica. Deixo o bacon e penso no peixe. Pare de pensar. Tabula rasa? Reflito novamente.
Diante do feirante. Operário ou burguês? Explorado ou explorador? Explorador! Sete reais o quilo da tilápia (peixe de água doce). Compro umas postas de salmão. Importado. Comércio internacional. Mercantilismo. Iluminismo. Kant. Agnóstico. Imperativo categórico: Comprar o peixe... e a verdura. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Salmão, salsinha, coentro, tomate (vermelho, fora da estação)... Tudo caro. Exploração novamente. Feirante? Povo alienado! Inconsciente coletivo, de Freud. “Operários do mundo inteiro, uni-vos!” Rosa Luxemburgo. Daí para a Escola de Frankfurt. Voltemos ao comércio. Livre. Dos iluministas. De Adam Smith. Feirante boa gente. Figura simpática. O meio que o corrompe. Rousseau. Feirante bom selvagem? Nada a ver! Nem na feira a vida parece fazer sentido. Ah, a existência! Sartre e o existencialismo... E o niilismo? De Nietzsche... Que deve ter tido razões pra acabar no sanatório. Freud explica!
Volto para casa. Ah, a Liberdade! O tempo passa. Tempo agostiniano. Sem dinheiro, essa coisa imanente. Menos números. Números pitagóricos. De volta ao monismo... Asso o peixe? Idéia (não inata): Moqueca! Água fervendo, para a moqueca. Causalidade? Todo cozido requer água e fogo. A moqueca de peixe é um cozido. Logo, sem água e fogo eu não terei a minha moqueca. Lógica formal. Termo maior: água e fogo; termo menor: moqueca de peixe; termo médio: cozido. Silogismo, categórico! A água ferve... Lá “atrás” a causa eficiente, o primeiro motor, movente e não movido. Atualidade pura. Realismo dogmático. Certezas: (a) o fogo queima; (b) a água ferve; (c) a moqueca. Pirro e Hume, seus céticos!
Peixe bonito. Evoluído. Seleção natural. Darwin. Dialética hegeliana... Stop! “Filosofia não enche a barriga de ninguém”! Vamos comer. Antes, porém, dar graças, seu ingrato. Gratidão, virtude cristã. Então oro. Deus... Existe? Claro. Qual? Sou agostiniano. Paulo de Tarso. Jesus Cristo. Kant sai da área... E o ateísmo de Feuerbach e Marx – que disse “religião é ópio do povo”. Volto para Agostinho... Paulo de Tarso... Transcendência. Lembro: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. Jesus Cristo, o Logos! Vida, Caminho e Verdade. “Que é a verdade?” – perguntou Pilatos? Conhece? Epistemologia. Que é conhecimento? Bíblia, Palavra de Deus, palavra belíssima! Ah, a Beleza! Do Banquete, platônico? Beleza da Estética, filosófica. O que é o belo? No sujeito ou no objeto? “Nem só de pão viverá o homem”, resposta do Mestre ao tentador. Maligno. Mal. O que é o Mal? Agostinho de novo... Inclusive Einstein. Maligno no Inferno. E aparece Dante (e Beatriz). Muito bem: o homem viverá da Palavra. Quem? O homem. Que é o Homem? De onde vim? Por que estou aqui? Para onde vou? Eternidade? Imortalidade? Conceito útil? Imperativo hipotético? De Kant? Stuart Mill? Pare! Jesus Cristo: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra...”. Ah, a Palavra! Nominalismo? De Guilherme de Ockham? O pensamento voa. Wittgenstein. Habermas. Virada lingüística! Século XX. Meu passado. Tempo agostiniano: Século XXI.
Tempo de comer. O salmão com molho. Molho verde (de verdura). Depois da oração, o salmão. Este, chileno, alaranjado, quase vermelho... Chileno como Neruda e Allende... Socialistas. (Pinochet) entre parênteses... Vermelho da esquerda (não o verde, dos ecologistas)... Esquerda (do parlamento, na Revolução Francesa, Iluminismo)... Guevara, PT... Este não mais! Mundo confuso. Meio surreal. Existencial. Kierkegaard.
"Morrendo de fome", concluo, como Voltaire, que "existe uma grande diferença entre o pensamento e o alimento sem o qual não conseguiria pensar". "Jamais consegui entender como e por que as idéias desvanecem-se quando a fome faz languidescer meu corpo e como elas reaparecem quando estou alimentado". Um aforismo de Descartes é: "Se não se come, não se pensa". Pronto! Síntese dialética: comamos! “Filosofia não enche a barriga de ninguém”. Racionalismo digestivo. Não cogito de não comer. Então como, logo, existo! Não posso existir e não existir ao mesmo tempo e no mesmo sentido ou relação. Lei da não-contradição. Insisto: existo? Ou não seria tudo uma ilusão, aparência, sofística? Como como, com uma dúvida dessas?
(Texto utilizado para introduzir debate em classe
de adolescentes e jovens, alunos de Filosofia.
Ao final, foi introduzida a discussão
sobre os conceitos de Revelação, Fé e Razão)
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