domingo, 19 de julho de 2009

Quando eu era criança pequena lá em Barbacena...



Entre as inúmeras histórias que minha avó nos contava, havia uma em especial, que muito me impressionava... Soube mais tarde ( bem mais tarde) que se tratavam dos " Contos da Mamãe Ganso" de Charles Perrault (1628-1703). Essa ficou guardada em minha memória e em meu coração...


As Fadas

Era uma vez...

uma viúva que tinha duas filhas. A mais velha se parecia tanto com ela que, quem a via, pensava estar vendo a mãe.

– Como são desagradáveis e orgulhosas! - costumavam comentar os conhecidos.

Ninguém aguentava viver perto delas.

A caçula era o verdadeiro retrato do pai, pela doçura e pelo bom caráter.

E, além disso, muito bonita.

Como costumamos amar quem se parece conosco, a mãe era louca pela filha mais velha e tinha uma incrível antipatia pela caçula. A moça comia na cozinha e trabalhava sem descanso.

Entre outras coisas, essa menina era forçada a ir a uma fonte distante, duas vezes por dia. Andava quase meia légua para trazer na volta uma grande bilha, cheia d’água.

Um dia, em que estava lá, aproximou-se dela uma pobre mulher, que lhe pediu:

– Quer dar-me de beber, minha menina?

–Pois não, minha boa tia.

E a bela moça, imediatamente, lavou a bilha e depois tirou a água com todo o cuidado. Em seguida, ofereceu-a à mulher, segurando sempre a bilha, a fim de que ela pudesse beber mais facilmente.

Tendo bebido, a mulher disse:

–Tu és tão boa, que não resisto ao desejo de te fazer um dom.

Tratava-se de uma Fada, que tinha tomado a forma de camponesa pobre, para ver até que ponto iria a bondade daquela jovem.

–Eu te faço o dom de que, a cada palavra que disseres, saia de tua boca uma flor ou uma pedra preciosa – disse ela.

E afastou-se.

Assim que a bela menina chegou à sua casa, a mãe a repreendeu por voltar tão tarde.

– Eu vos peço perdão, por ter demorado tanto, minha mãe – disse a pobre moça.

E, mal pronunciou essas palavras, saíram-lhe da boca duas rosas, duas pérolas e dois grandes diamantes.

– Que vejo? Creio que saem de tua boca pérolas e diamantes! Como acontece isso, minha filha? – perguntou a mãe, cheia de espanto. (Foi a primeira vez que a chamou de filha.)

A menina contou-lhe, ingenuamente, tudo o que lhe havia acontecido, não sem lançar pela boca uma infinidade de diamantes.

– É preciso que eu envie logo a minha filha a esse lugar – disse a mãe. – Vê, Francisca, vê o que sai da boca da tua irmã, quando ela fala. Não gostarias de ter o mesmo dom?

– Que bem me importa – respondeu a filha mais velha, com insolência.

– Tu só terás que ir à fonte e, quando uma pobre mulher te pedir de beber, tu a servirás com toda a gentileza.

– Tem graça – respondeu a mal-educada. – Eu ir à fonte!

– Eu quero que tu vás e já – ordenou a mãe.

A moça foi, mas resmungando. Levou o mais bonito jarro de prata que havia em casa. Nem bem tinha chegado, viu sair
do bosque uma dama magnificamente vestida, que veio pedir-lhe de beber. Era a mesma Fada, que aparecera à sua irmã.

Desta vez havia tomado a aparência e as roupagens de uma Princesa, para ver até que ponto iriam os maus modos daquela jovem.

– Acha que vim aqui para lhe matar a sede? – respondeu a malcriada. – Imagine se eu ia trazer um jarro de prata especialmente para dar de beber à madame! Se quer beber, beba por si mesma.

– Você não é uma pessoa direita – disse a Fada, sem se encolerizar. – Muito bem, visto que gosta tanto de dizer coisas desagradáveis, eu lhe dou por dom que, a cada palavra que diga, saia de sua boca uma serpente ou um sapo.

A moça voltou para casa e, assim que a mãe a avistou, já lhe gritou de longe:

– Então, minha filha?

– Então, minha mãe? – respondeu a filha, expelindo dois sapos e duas víboras.

– Oh, céus! – exclamou a mãe. – Que vejo? Tudo isso foi por causa da tua irmã. Ela me pagará.

E correu para bater na jovem.

A pobre menina fugiu e foi esconder-se na floresta vizinha. O filho do rei, que voltava da caça, encontrou-a ali. Vendo-a tão bela e tão sozinha, perguntou-lhe o que fazia naquele lugar e por que chorava.

– Ai de mim, senhor, foi minha mãe que me expulsou de casa.

O príncipe viu sair da boca da moça cinco ou seis pérolas e outros tantos diamantes. Pediu-lhe para dizer como chegara a ter esse talento, e ela contou toda a sua aventura.

Ele enamorou dela e considerou que um tal dom valia mais do que qualquer dote que outra noiva pudesse trazer. Levou-a ao palácio de seu pai, onde a desposou.

Quanto à irmã, ela se fez detestar a tal ponto que a própria mãe não a quis mais perto de si.

A infeliz, depois de ter perambulado sem encontrar

ninguém que a quisesse receber,

foi morrer num recanto do bosque.





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