Foi por acaso, sem planejar, que Martinho José Ferreira começou a moldar Poeta da cidade, álbum-tributo lançado agora em homenagem aos 100 anos de nascimento do poeta maior da Vila Isabel, Noel Rosa. Convidado pelo departamento de Letras da PUC-Rio, que preparava um livro de ensaios sobre o compositor, Martinho passou a selecionar e gravar algumas versões para clássicos do mestre, que serviriam de luxuoso adendo aos trabalhos burilados por 14 pesquisadores. Mas aos 72 anos, o compositor que cultivou por décadas o bordão “devagar, devagarinho” como retrato de sua persona relaxada, pisou firme no acelerador e deu ponto final às linhas melódicas antes que o registro escrito estivesse pronto.
– Eu sempre pensei em gravar um disco com algumas coisas de Noel, mas não andei com a ideia. Até que o pessoal da PUC pediu que eu gravasse algumas músicas, que estariam num CD encartado no livro, mas acontece que o CD ficou pronto e o livro, não – explica. – Acho que lidar com 14 escritores é mais difícil, fiz o meu tranquilamente e terminei. Aí o pessoal da Biscoito ficou sabendo e veio me dizer que a gente não podia deixar a data passar em branco.
– Noel foi importantíssimo para a definição do samba como o conhecemos hoje. Ele surge num período em que o samba era amaxixado... É a partir dele que se configura esse jeito carioca que vemos hoje – teoriza. – Isso foi possível porque Noel admirava os sambistas do morro. Ele se aproximou dos compositores favelados, como o Cartola e o Ismael Silva. A partir daí, mudou e urbanizou a linguagem. Noel não tinha preconceitos, fazia parceria com todos. E por isso ele é importante não só pela obra, mas pela postura social que adotou.
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