quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Rio Como Vamos




Ser atingido por uma bala perdida é atualmente o maior temor dos cariocas em seu dia a dia. A revelação é da Pesquisa de Percepção 2009 do Rio Como Vamos, encomendada ao Ibope e cujo relatório acaba de ser concluído. Das 1.358 pessoas entrevistadas em agosto em todas as regiões da cidade, 36% apontaram como seu principal medo o risco de ser baleado, mesmo sem estar envolvido numa situação de tiroteio. Os moradores da Zona Norte – justamente onde fica a Favela Kelson’s, na Penha, local em que a dona de casa Ana Cristina Costa do Nascimento, de 24 anos, foi morta e sua filha de 11 meses ferida por uma bala perdida no último domingo – foram os que demonstraram mais este receio: 44% deles. O medo das balas perdidas também foi apontado pela maioria dos moradores das demais regiões da cidade que participaram do estudo.

Comparando-se os dados da Pesquisa de Percepção do RCV com os do Relatório Temático sobre Balas Perdidas do Instituto de Segurança Pública do Estado (ISP) e com as ocorrências mais recentes – além do caso de Ana Cristina e a filha, a morte do ambulante Marcelino dos Santos, de 51 anos, também no Complexo da Penha, e as vítimas inocentes da guerra que vem sendo travada entre traficantes e polícia há duas semanas – nota-se que o temor dos residentes da Zona Norte não é infundado. De acordo com o relatório do ISP, das 79 pessoas vitimadas (entre mortos e feridos) por balas perdidas no primeiro semestre deste ano na Capital, quase a metade foi atingida em bairros da Zona Norte, área que concentra o maior número de domicílios em favelas da cidade (49,78%, segundo dados do Censo 2000 do IBGE).

– Nossa pesquisa mostra que balas perdidas aterrorizam os moradores de todos os bairros do Rio de Janeiro. Na Zona Norte, é natural que o temor seja maior, já que é lá que ocorre grande parte dos conflitos entre as facções do tráfico e entre criminosos e policiais, como estamos vendo agora. Espero que as autoridades da Segurança Pública levem para as favelas dessa região, urgentemente, o modelo das Unidades de Polícia Pacificadora, que tem se mostrado tão eficaz e despertado grandes esperanças de paz nas áreas conflituosas, como foi o caso do Dona Marta. Com a polícia cidadã, devem chegar outros serviços públicos, que dêem a essas comunidades o estatuto de um bairro como qualquer outro e onde se possa viver tranquilo – diz a presidente executiva do Rio Como Vamos, Rosiska Darcy, destacando que a liberação de recursos federais para as UPPs, prometida na terça-feira pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, é bem-vinda.

As balas perdidas foram ainda o maior temor apontado por 36% dos moradores de Barra/Jacarepaguá; 35% no Centro; 34% na Zona Sul e 24% na Oeste. No total da cidade (36%), o medo de ser atingido por uma delas é maior, inclusive, do que o receio de ser assaltado, respondido por 23% dos entrevistados, com maior incidência na área de Barra/Jacarepaguá (31%). Em terceiro lugar foi apontado o medo de sair à noite, com 19% das respostas, principalmente de moradores do Centro (23%) e das zonas Sul (23%) e Oeste (26%). Em quarto e quinto lugar vêm, respectivamente, o temor da presença do tráfico, com 7%; e o de abordagens policiais, com 4%.

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